De-cisão
Escolho o terceiro;
no fim das contas
eu escolho o inver-
so do primeiro e fi-
camos assim: você
não liga pra mim e
eu não telefono, vo-
cê não é meu dono
e eu finjo estar nem
aí;
a gente finge que não se
conhece e até se esquece
de quando íamos na sorve-
teria fazer planos de viajar
por todo o nordeste.
você nem gosta desse gostar
de mim, não é verdade? eu sei
que nessa cidade não deve ter
ninguém tão complicado assim,
ninguém que finge o oposto do
reverso e quando é descoberto
nem se lembra mais do que fez.
ninguém que use camisa xadrez no
verão, que só usa bota, que tem a per-
na torta mas que não gosta que você
comente, que odeia que que você se
cale quando as coisas ficam complica-
das, que gosta de deixar as coisas com-
plicadas; que vive pensando no que seria
se não fosse
que gosta de sair só pra comer doce, que
vive correndo para cima e para baixo e
quando aperta o passo é porque se pre-
para pra fazer temporal - aprendeu a con-
trolar o tempo franzindo as sobrancelhas -;
que nunca tem certeza estando irredutível
e que se faz impossível quando começa
a falar dos assuntos do coração.
eu sei que você nem gosta desse
alguém que nem se importa, mo-
rrendo de amores, calado, vez ou
outra te falando que você já deve-
ria ter partido; eu sei que a gente é
o tempo todo amigo mas vez ou ou-
tra é algo mais.
eu sei que você nem se importa,
e eu também não, mas ele, coita-
do, tá aqui do lado, pedindo para
te madar um beijo, querendo sa-
ber como é que cê tá, doidinho
para marcar aquela saída, já cha-
mou umas amigas mas sempre
sente falta de você - a eterna man-
cha de quadro na parede do quar-
to das memórias, você.
a gente nem se importa, mas se
quiser aparecer qualquer dia, lá
no bar das tias ou aqui em casa
não hesite em se aprochegar.
não venha com muitas expetati-
vas ou com as certezas definidas,
venha não se importando. Só estou
certo de que gosto de te ver chegar -
com isso me importo, e muito.
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