13 de agosto de 2016

Dos Amores Que eu Escolho


Eu só amo o que não se perdeu. Tudo nesta vida está condenado a se perder, até eu mesmo - reencontrar algum caminho é uma das maiores provações. Eu só amo o que está só, ou pelo menos tento amar o que só anda só, não consigo. Eu não consigo amar um coração vazio, eu não consigo amar o que não aceita se perder - os corações são essencialmente vazios, nós é que teimamos em preenchê-los.
Falo muito de amor, é uma tendência a me repetir - o próprio amar é uma tendência a repetir -, a vida é um emaranhado de ciclos imperceptíveis. Falo muito sem chegar a um lugar definitivo, sou prolixo; hoje, mais cedo, falei indefinidamente até chegar à conclusão de que o que realmente me assustava era o dizer adeus, era abrir mão até mesmo da fala, eu sou uma vítima das minhas palavras. Falar de amor é não viver amor, o amor é mudo, táctil e recusa os porquês hospedados pelos escritores.
Eu só amo o que não se escreve. Não amo a dúvida porque esta é metade de mim, a outra metade eu não sei, e é esta a que eu amo. Eu sou um alguém inóspito, está nos olhos, dá pra ver nos olhos que falta uma coisa - onde você me procura como abrigo para o mundo lá fora eu sou a foice que assola o espírito, onde espera de mim terrores noturnos lhe cubro de beijos; eu sou um alguém inóspito às expectativas.
Eu só amo a paz que não me consome, aquilo que em mim é ausente - a paz na paz. Talvez seja porque eu espere que esse meu coração inquieto me leve a algum lugar melhor. Aqui mesmo onde sei que deveria frear a mente e aceitar o sossego não paro de pensar em você.

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