Efemérides - 30/08/16
O que brilha nos teus olhos
e escorre pelo canto da tua boca
é o fel no qual habito nessas
noites frias, é a falta que cê me faz.
Eu queria poder brilhar sem olhar
para trás, ser a estrela autônoma
que é só ausência no céu em que
habita. Você é só ausência no céu
da minha memória.
Religiosamente torço o choro no que
precisa ser feito: o aperto no peito
costuma resultar num chão bem limpo.
Respiro, com os pulmões em brasa
e o coração em fúria, buscando por
refúgio no que foge de mim, buscando
por refúgio em você.
Entre soluços e mal entendidos
eu ouço o seu lamento silencioso
e reconheço como sempre foi
belicoso o meu gostar por você.
o poema é todos os dias que me
doem, enumerados, revisados e
prontos para serem entregues
a um destinatário que desconheço.
Quão irônica é esta intenção clara
que surge a partir dum feixe de
desentendimentos? - eu queria
falar só mais um pouquinho, só
o bastante pra sair daqui, sabe?
Eu não gosto do estar só num lugar.
Não gosto de estar só aqui, com você.
Que falta me faz a sua companhia
quando o meu dia não era só esse
eterno matar ou morrer, tentando ser,
um pouco menos, esse alguém que
te afasta e, lentamente, mata o meu
eu mais profundo, mata as minhas
saudades e os meus subterfúgios.
Eu sou coragem líquida transbordando
no chão do teu quarto e queimando a
tua pele - o fogo, seja ele como for, não
tem memória. Eu sou as palavras ditas
e jamais guardadas. Sou as cartas e
poemas que se perdem e nunca são
resgatados - como seria um mundo sem
desencontros?
O dia clama por ordem, seja ela como for.
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