8 de março de 2016

Sobre o Ruir





Os meus amigos de anos atrás
desapareceram em si mesmos;
por detrás de um choque anafilático
por detrás do estresse pós-traumático 
a solidão residual.

Os amigos que seguiram a maré.
Que consultaram cartomantes cegas --
obtendo consenso na maioria das respostas:
"o futuro é uma ilusão, lidem com o agora".
E que choraram, correndo
para um horizonte de expectativas,
sonhando com o amanhã que nunca chega,
protelando suas tarefas,
recitando Anna Akhmatova e expondo
a crueldade do mundo.

Os meus amigos que vomitaram nanquim 
em folhas de papel sulfite e escreveram
os mais belos poemas da face da terra.
Os meus amigos de pernas tortas e
sorrisos largos que sentaram-se em 
cadeiras acolchoadas e velaram seus sonhos
em cursinhos pré-vestibular.
Os meus amigos que para sobreviver ao
naufrágio abandonaram a esperança.

Os amigos que eu amava abertamente.
As minhas grandes paixões.
Desapareceram em si mesmos.
Sem deixar rastros.
Na calada da noite.
Num assobio melancólico
que ecoou até o amanhecer.

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