28 de março de 2016

Olá, Abril!

Março esmaece
monocromático
no céu de outono;
as flores contemplam o mundo
incrédulas com o fim
esfregam sua pétalas contra o vento
insatisfeitas e melancólicas.

"Podemos resistir ao frio?" - perguntam chorosas.
Como combater, sem medo, o invencível?
folhas farfalham, melódicas, melosas, fúnebres.
Adeus Março, adeus Amor.

Olhos fechados diante do desconhecido
no abandono qualquer um é abrigo.
Qualquer casa é um lar.
Qualquer coração é amor verdadeiro.
Os meses são longos. Mas não parecem ser o suficiente.

A vida é muito longa. Parece bastar.
Tem que bastar.

Abril adentra despretensioso, risonho, caloroso.
E aquece as folhas fúnebres
as viúvas de Março.
Não é um outono qualquer, 
é um outono quente, esperançoso.

Abril é um novo amor.
As flores veem estrelas
refletidas no orvalho do fim da madrugada
e no clarear acham um desalento.
Março não é um coração partido
mas se põe
e não encontra ninguém para contestar a sua partida.


Abril.
Cujos lábios sussurram eletricidade.
Caótico e invencível.
Abril é doce e expansivo.
Não é a promessa de um futuro melhor,
mas é a certeza dum excitante presente.
E para flores cinzas e folhas frias
Isso bem que vem a calhar.

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