24 de fevereiro de 2016

Sobre o Satisfazer


O conselho de hoje,
a palavra de ordem do dia
é que busquemos ao outro,
é que façamos um aborto na solidão
e que busquemos ao outro.

Mas eu não me sinto confortável,
em parte porque eu creio em solidão a dois
e em outra porque tenho me focado 
em deixar o outro para depois.
O milagre só se dá naquilo que é palpável.

Eu sempre estou aqui para mim;
já o outro é uma dúvida. É uma dívida. É inconstante.
É o caminho oposto ao qual o milagre galopante
trilhará.
O outro é uma zona de desconforto.

O outro é, mais do que nunca, uma construção.
As minhas experiências comprometeram
o meu compromisso com a análise,
com a percepção.

O conselho de hoje é que façamos da nossa solidão 
um elo, um compartilhamento
com aqueles que idealizamos
e agora não conseguimos enxergar.
O que a maré nos trará quando o dia anoitecer?

Se de mim eu não sei o que vai ser,
imagina do outro!
O outro que só é rouco quando lhe convém.
O outro que prorroga como ninguém.
O outro que é afoito e finge ser zen.

Eu não sei. Do outro eu não sei.
Sei que ele não lida bem com desconfortos.
Mas a minha zona de conforto é o desconforto.
A minha escrita é bélica, e eu sou uma fera contemplativa.

O outro não pega em armas de nenhum tipo.
Mas espreita nas sombras zelando por si
e por seus caprichos.
O outro é ferido
mas eu não sei por quem, e não vou saber.

O outro é uma crípta;
é solitária, é melancólica
e exige ser desbravada.
O dia exige disponibilidade 
para desfrutar da solidão e do incerto a dois.

O dia exige que baixemos a guarda
e deixemos as perguntas para depois.
o dia exige um abraço e poucas palavras;
quem muito faz pouco sofre por possibilidades.
e o que todos comentam na cidade é que dentro destes
os corações já não cabem mais.

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