Sobre Não-Encontros
Você parece tão velho agora; seu rosto tenta me contar histórias, mas nunca consegue, por culpa da rouquidão, por culpa do esgotamento. O bigode chinês, agora mais acentuado do que nunca, emoldura o sorriso mínimo e desconfortável.
[Ele]. É um pequeno rei, com um ego imenso, paredes de castelo infinitas, corredores vazios; um pequeno rei sentado num pequeno trono, completamente só.
Vejo que agora você é mais velho, em aparência, não em essência - mas age como se fosse absoluto velho com maneirismos de moleque, Benjamin Button wannabe. Vestindo sua fantasia de sábio, caminha noite adentro, castelo afora, procurando um alguém para preencher seus vazios. Noite densa, muita gente, festejos mil, solidão a pino.
Ele nunca acha alguém, porque esse alguém é muitos, legiões, que acabam sendo, quando o dia clareia e os olhos despertam do lunatismo, ninguém. Vestindo sua fantasia de sábio o Pequeno Rei - que é, por dentro, absoluto Bobo (mas que mataria quem quer que o chamasse de Bobo) - se sente só.
Eu já me senti tão só quanto você. Hoje não mais.
Agora que estou aqui te olhando de perto, mais uma vez, continuo te achando um completo Bobo. Você me olha de volta, com ódio - seu olhar é fatal.
Não fale comigo - penso repetidamente, quase como numa prece silenciosa. A angústia me toma gradativamente à medida em que você arrasta seus pés pequenos na minha direção, hesitante. De repente para. Nossos olhares se cruzam e você dá um pequeno passo para trás com a mesma hesitação de quando caminhava até mim. Me alivio ao perceber, por detrás dos seus olhos em fúria, a mesma covardia que me habita.
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