Trechos - Jorge Luis Borges e a (Ideia de) Estética
"Carlos Frías sugeriu-me que aproveitasse o prólogo para uma declaração de minha estética. Minha pobreza, minha vontade opõem-se a esse conselho. Não sou possuidor de uma estética. O tempo ensinou-me algumas astúcias: evitar os sinônimos, que têm a desvantagem de sugerir diferenças imaginárias; evitar hispanismos, argentinismos, arcaísmos e neologismos; preferir as palavras habituais às palavras assombrosas; intercalar em um relato traços circunstanciais, exigidos agora pelo leitor; simular pequenas incertezas, já que, se a realidade é precisa, a memória não o é; narrar os fatos (isto aprendi em Kipling e nas sagas da Islândia) como se não os entendesse totalmente; lembrar que as normas anteriores não são obrigações e que o tempo se encarregará de aboli-las. Tais astúcias ou hábitos não configuram certamente uma estética. Além do mais, descreio das estéticas. Em geral não passam de abstrações inúteis; variam em cada escritor e ainda em cada texto e não podem ser outra coisa que estímulos ou instrumentos ocasionais."
BORGES, Jorge Luis in "Elogio da Sombra". SP: Editora Globo, 1999, p. 8.
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