18 de outubro de 2016

Resenhas - A Poesia Solar de Adriano Espínola



A cidade é um espanto, a cada esquina, em cada calçada suja, árvore por árvore, um espanto. Entre o espanto e a fumaça há Adriano Espínola, nostálgico, romântico e um tanto solitário, acompanhando as lavadeiras e os pores do sol, sentindo na pele cada gota da alvorada e usando as águas para escrever o seu amor através destes poemas.
“Escritos ao Sol” é um abismo poético. Eu me lembro de abrir o livro e me sentir muito mal – foi uma daquelas tristezas que parecem assombrar a alma, sabe? Daquelas que a gente busca beber diretamente na fonte, uma melancolia magnética. 
Em primeira instância Espínola se faz assombro, e logo depois saudade. Sinto, por ele, saudades de alguém que não conheço – talvez saudades de um alguém que gostaria de conhecer.

“Feito um cego ao sol

e em silêncio, 
eu bebo entre as mãos 
a tua ausência.”



A saudade silenciosa, não endereçada, que se faz cartas não mandadas, poemas rabiscados nas profundezas da noite e suspiros inconclusivos. 
Ao contrário do que o título indica, não é um livro de Sol – apesar dos dias ensolarados e paisagens beira-mar serem elementos frequentemente repetidos na obra – “Escritos Ao Sol” é uma antologia das saudades, carícias na memória e no que hoje é vazio profundo, fumaça de escapamento, falta de tempo e desencanto.

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