Sobre as Dificuldades de Ser
Não sei o que fazer a respeito destes embaraços e especulações. É difícil coexistir com as pendências - seja com as pessoas, com os lugares ou com o tempo. No fundo do poço a alma pesa e não flutua para a superfície, no fundo no mundo eu não consigo respirar; a dificuldade de ser me sufoca.
Falando na dificuldade de ser, é no livro de título homônimo que Jean Cocteau desabafa: "Aqui mesmo, onde deveria frear a mente e viver introvertido, não paro de conversar com você". Neste ponto, pelo menos nesta frase, sou como Cocteau. Sei que deveria desacelerar e acolher um pouco mais o silêncio que habita em mim, mas não o faço. Quando me vejo perto das conclusões interrompo a mim mesmo com um turbilhão de ideias e afundo num novo ciclo.
A incerteza me move. Eu, tão certo de mim e das coisas que quero, busco as pessoas que fogem das minhas incessantes perguntas e encontram nas não-respostas um abrigo. Começo a perceber as minhas certezas sob uma nova ótica, mais solitária e desinteressante. Toda certeza abriga um vazio nas costas - o silencioso período entre um término e um novo começo.
O incômodo não pode ser ultrapassado. A única coisa que nos resta é caminhar lado a lado com ele. Nos términos estamos ao seu lado, e nos começos também; apenas no decorrer dos processos ele consegue estar à nossa frente, anestesiando-nos das coisas que nos perturbam e/ou fazem mal - esta é a famigerada zona de conforto.
As zonas de conforto são interlúdios da vida. Momentos em que nada verdadeiramente relevante acontece - até porque não nenhuma revolução é filha do conforto; elas são fruto do incômodo. Nestes pequenos interlúdios, nestes êxtases em pequena escala nós conseguimos transcender a dificuldade de ser. Nos interlúdios da vida dizemos para nós mesmos: "Respire." antes de partirmos para um novo sufoco, para um novo fim ou começo.
Claro que existem os covardes, as exceções. Quem lhe escreve é um covarde, e não tenho vergonha em admitir isto. Me inconformam os finais, ou os começos entrançados - eu só tenho coragem para fugir. Das pessoas que me cobram certezas eu fujo. E não pensem que o faço por maldade, eu fujo para não despejar sobre ninguém falsas esperanças. A minha dificuldade de ser reside justamente na minha efemeridade - minhas vontades zombam de mim.
E neste exato momento, onde deveria arranjar uma conclusão apropriada para este texto, me pego pensando em publicá-lo incompleto, tal qual a minha própria essência. Infelizmente a conclusão é recheada com uma certeza da qual eu não disponho. Ao meu alcance estão apenas algumas palavras que podem soar reconfortantes pra quem se identifica com as minhas divagações.
As coisas vão se resolver. Eu sei que é difícil de acreditar, mas vão. Não estou dizendo que tudo vai dar certo pra você, nem sempre vai. Mas você sempre poderá começar de novo - é aí que a existência não pesa; os novos começos, a transformação são inerentes à vida. Acredite em mim quando lhe digo que tudo vai se resolver.
Não quero lhe motivar a nada. Eu só tenho um amor profundo pelos meus semelhantes. Eu realmente torço para que tudo dê certo para você, leitor-companheiro. Espero que a tua vida mude, independentemente do rumo que ela esteja tomando, espero que se surpreenda.
Não caia na rotina, não morra na praia. Não pare aqui, neste ponto tão só, fazendo as mesmas coisas com as mesmas pessoas dum jeito tão igual. Leitor, não pare aqui, não morra aqui, porque eu te amo, porque você, de certa forma, também é parte de mim.
Leitor, faça desta dificuldade de ser um desafio. Aceite suas falhas. Seja excelente. Seja péssimo. Leitor, saia da sua zona de conforto. Eu sei que é difícil, lembre-se que sou um covarde, mas lhe peço porque te amo. Saia de si e encontre um novo você para desafiar o Mundo. Se surpreenda.
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