Por Que Não Desistimos?
Por onde quer que andemos nos deparamos com a polêmica, está nas esquinas, nos bares, no mercadinho, e ao lado dela cidadãos ávidos por debates com informações engatilhadas. Discutimos muito sobre a redução da maioridade penal nos últimos meses, e aos poucos pudemos perceber o desabrochar de uma classe preocupante: os inquestionáveis justiceiros urbanos, sejam os políticos que empurram votações sorrateiras ou cidadãos que amarram menores a postes.
Extremismo nunca foi e nunca será a resposta. Ao invés de estimular a violência e a rebeldia sem causa, necessitamos do diálogo, das análises, da percepção para além do evidente; menores infratores são, antes de tudo, menores. Por isso nos enchemos de análises, textos informativos e solução alternativas aos encarceramentos desregrados, tentamos, através de textos, transcender a máxima que visa a destruição do menor; queremos reconstruí-lo, e não o condenar.
O Brasil possui a quarta maior população carcerária do mundo, sendo que 70% dos infratores não são reintegrados à sociedade e reincidem na criminalidade. Todo o barulho que tem sido feito a respeito de “fazer com que os jovens paguem por seus atos” só acelerará o processo do colapso do sistema prisional – No Brasil prisão não ressocializa, muito pelo contrário.
Para a questão da redução, e citando Hobbes, é totalmente válido dizermos que fomos uns os lobos dos outros; o homem é o lobo do homem degradando-o em vários aspectos, no nosso caso foi através de uma série de más decisões. Comecemos pela base: através das más escolas, da ascendente desmotivação dos professores e dos parâmetros nacionais de educação só ganharam certo destaque na época em que o “kit gay” (escola sem homofobia) foi devorado pelos conservadores.
Temos que pensar além da média: não só as nossas escolas estão atrasadas, mas o nosso jeito de ensinar também, as soluções alternativas surgem a partir de pessoas com demandas diferentes, nem todos os alunos suportam ficar sentados durante seis horas, o desafio do professor é tentar adaptar-se e captar a atenção do maior número de alunos possível, algo tão raro nos dias de hoje que aqueles que o fazem tornam-se revolucionários.
Ainda que a escola não corrija a má educação familiar ela é importante na formação do indivíduo como cidadão. É importante que o jovem seja ensinado a pensar a respeito do mundo mediante ferramentas concedidas pela escola e não que aprenda, mecanicamente, conceitos prontos, porque estes serão facilmente substituíveis uma vez que o indivíduo não os criou, apenas absorveu.
Jovens cooptados pelo tráfico, que roubam comida, assaltam ônibus, todos eles correm por um futuro melhor, apesar de terem achado formas diferentes para fazê-lo. Citando Paulo Freire, “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é tornar-se opressor”; o crime, para estes jovens, é uma forma de obter o que lhes foi negado pela sociedade, a educação precária que posteriormente resultou numa geração inteira sem perspectiva de futuros brilhantes, violenta, inconsequente, e assustados com a distopia em seus futuros, os jovens infratores tentam melhorá-los, sabendo, inconscientemente, que os perdem.
Parar os morticínios da juventude propostos pelos grandes conservadores brasileiros enquanto tentamos fazer nossas propostas de trazer lazer e educação aos jovens válidas no combate à criminalidade é exaustivo, porque argumentar cansa, uma hora sentimos vontade de desistir, e só não o fazemos porque desistir destes jovens significaria desistir de nossa pátria, e esta possibilidade está fora de cogitação.
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