8 de setembro de 2015

Desabrochares

Há de nascer aquele que te conheça melhor que ti, Jabuticabeira. Árvore de raízes no futuro, caule no passado e folhas etéreas; a árvore que por pertencer a todos não pertence a ninguém.
Jabuticabeira, quem te percebe numa manhã sem sol? Quem, se não ti, poderia ser o soberano sol sobre os sãos? Afinal, o que é sanidade, Jabuticabeira? E o mais importante de tudo: como poderei alcançar as famigeradas raízes sem estar cônscio de mim mesmo?
A árvore da vida é estéril, assim como você. O tempo passa, você retrocede avançando, e mama nas tetas dos dois mil e poucos anos depois da partenogênese de Maria - tetas secas, vidas secas.
O agreste da alma converge com o inverno do ser. O encontro da matéria com o espírito é tão caótico que se torna doce - caóticos e doces são seus frutos, Jabuticabeira, e tão negros quanto eles são os olhos que encaram mais uma partida - na negritude da íris o reflexo da solidão.
Semear na terra salgada enquanto o vento sussurra nomes de homens mortos. É tempo de munir-se com foice para colher aquilo que outrora fora plantado. 
A flor dos solstícios brota da estéril planta e baila primavera adentro. É tempo de florescer.

*bônus* essa música da Gal casa bem com o texto, quer dizer, um dia casou, não sei se ainda estão juntos - é uma questão de percepção.


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