14 de setembro de 2015

Degradê do Apreço

Escrevi este poema sobre como esse nosso amor-próprio é versátil. Às vezes é casco, outras é âncora e até mesmo vela; o navio das relações é assustadoramente volúvel. Mas volúvel também é o mar que atravessamos; se afogar ou enfrentar a mudança? Adaptar-se ou murchar sozinho? São algumas destas perguntas que nos fazemos naquele domingo à noite em que não tem nada de bom na tevê.
Morrer de amor dói, e muito. Será que devemos nos permitir mudar? Seria o amor próprio exacerbado o medo das decepções? Eu não sei; espero que não seja. E espero, para o bem do meu coração, que eu continue me bastando, ou pelo menos que permaneça crente nisso.


Degradê do Apreço


Eu me amo.
Amo muito me amar.
Amo falar que me amo.
Ainda que saiba do que perco.

Ainda que perca os clichês de São Valentim.
As rosas murchas no quinze de junho.
Os cartões com promessas de futuros belíssimos.
Ainda assim, amo me amar.

E não pensem que é amargo.
Aquele que prova de si mesmo e gosta,
Este é verdadeiramente livre,
E este é verdadeiramente louco. 

Não pense que quando olho através da sala.
Os meus olhares buscam os teus.
Achei ter visto um espelho atrás de você.
Me enganei.

Não tenho tempo para gostar de alguém além de mim.
Não tenho paciência para gostar de alguém além de mim.
Não tenho persistência para gostar de alguém além de mim.
Apesar de não ter medo de gostar de alguém além de mim
Não gosto.

Não gosto do gosto de engolir
Os gostares alheios para o meu amor vir a ser
Que me fazem desgostar
Do gosto de quem gosto.

Prelúdio de um coração partido;
Não é o meu coração.
Não é a minha boca.
Não sou eu.

Não amo,
Não amei,
Não amarei,
Não amaria,
Alguém além de mim.

Porque só eu verdadeiramente me satisfaço.
Enquanto ser.
Enquanto espaço.
Eu gosto do meu gostar por mim.

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