21 de setembro de 2015

Uma Ode aos Estranhíssimos Vocês

Estava assistindo uma série (Portlandia, a quem quer que interesse) e uma frase me chamou a atenção: "Lembra do tempo em que incentivavam as pessoas a serem estranhas?" Bem, eu não lembro, mas adoraria lembrar.
Eu gosto muito de pessoas diferentes, gosto de ver gente diferente sendo diferente e não tendo vergonha disso; esse poema é uma forma de dizer a estas pessoas que estão pelo mundo nadando contra a corrente: "Gosto muito de você, viu? Não fica triste com esse pessoal hipócrita, eu tô aqui, também sou estranho".
Estranhos do mundo, uni-vos! 


Uma Ode aos Estranhíssimos Vocês


 
Poliamoristas secretamente monogâmicos, poliglotas verborrágicos.
Professores catedráticos da solidão e da coragem.
Pajens de noivas-cadáver solitários em pleno mês de maio.
Caio às cinco da tarde numa rua movimentada.

Sem previsões de chegada ou partida.
Se o palhaço lhe parecer engraçado então ria.
Se lhe parecer melancólico então chore.
Se não conseguir ver o palhaço então lamente.

Quem vai me ajudar a sair destes fétidos paralelepípedos?
A qual mão posso segurar ao pôr-do-sol desta quinta-feira?
Aberrativo mundo novo.
Não foi você quem caiu? Então trate de levantar.

Sacodir a poeira e contemplar o horizonte.
Eu não acredito em poetas que morrem por amor.
Ninguém nunca morreu por amor na história do mundo.
Agora o medo promoveu, e ainda promove, morticínios.

Os garotos apontam e riem.
As matriarcas balançam as cabeças em desaprovação.
A estranhíssima criatura desfila pelo salão.
O pai, ainda abotoando a calça, chega a tempo para esboçar sua reprovação.

Ainda há de nascer aquele que me arrastará para fora de mim.
Ainda há de nascer aquele que me acolherá no ápice da minha estranheza.
Silêncio não é normalidade, muito menos conformidade.
O que é normalidade? O que é silêncio? Silêncio é anormal, grite.

Quem proclamará aos quatro ventos por quem os sinos dobram?
Todos nós sabemos.
Quando as viaturas vomitam cassetetes sobre os descamisados.
É aí que sabemos por quem os sinos dobram.

Caçador americano mata Pantera Negra legendária.
Parem as prensas, atiraram na Pantera.
Enrolem-na numa bandeira qualquer.
Queimem o corpo depois de ver.

Para onde voltaremos, amigos?
Fúnebre e solitário ao anoitecer retorna gloriosamente.
O fantasma que escreve auto-poesias e chora sem lágrimas.
O buquê é feito de poemas descartados, o vestido composto de possibilidades.

Quem nos, quem me levará ao altar?
Um velho e opaco espelho na catedral de São Pedro.
Qual dos vocês você decidiu ser hoje?
Quem você vê no espelho?

Poetas polimórficos sussurram ao meu ouvido.
"Não gostamos das tuas mudanças. Você deveria mudar. "
Mudar para quem? Por quem? Por que?
Permanecer, continuar. A resiliência é a última das belezas do mundo.
Os estranhos são a fronteira final entre a beleza e a insanidade.
Que momento maravilhoso para se estar vivo.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Seguimores