Sobre Veias Abertas
Froteiriço: aquele que vive à margem, mas nunca à míngua.
habitante do interlugar,
do estar ali e talvez aqui, inalcançável.
senão pelos olhos de bon vivants.
De uma ponta à outra, ponta de lança, carcará,
olhos quase mortos
na secura que é estar aqui
e sonhar acordado com América e bons
empregos.
as veias abertas da América Latina é a minha mãe preocupada
com o meu exílio. "Isto não é América" - compreenda.
Amiga querida dizendo que vai sair de casa para ser babá nos states
e eu querendo também sair de casa
para subempregos em terra prometida,
mal sabendo eu que sonhar que se está fora de casa já é estar.
Veias abertas e fora de casa e subempregado e ininteligível ao mínimo sinal
de tristeza.
"não lugar" é um lugar de passagem,
mas o que fazer quando o não
lugar se arrasta por anos? dez anos, talvez quinze, até mesmo vinte para aqueles
que ainda conseguem se lembrar.
Eu gosto de contar histórias,
e de ouvir,
e de olhar para trás
rememorando o dia em que eu me sonhei fora de casa
e de lamuriar estar fora de casa.
Eu gosto de contar histórias
sobre os não-lugares que se tornam lares --
e, inversamente mas não estranhamente,
sobre os lares que se tornam não-lugares.
a custosa viagem à terra natal,
os olhos cheios de lágrimas,
o coração tão cheio que
mal se contém justamente por finalmente estar em casa.
Um dia eu acharei as palavras certas, e elas serão simples.
"eu te amo".
arte::: "La Rosa" da Lotería mexicana.
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