25 de novembro de 2017

Mnemosine


Agora que eu e você mudamos e desaparecemos e não mais nos falamos, nem mesmo em sonhos, sinto que é o momento ideal para te escrever.
Lembro agora que a primeira vez que nos encontramos a Lua estava em Escorpião - acho que na última também. Rememoro que sentei a tarde toda num banco, evitando seus olhos por não achar que os merecia ou por não me sentir preparado para eles, olhos que me perseguiam secretamente, buscando por correspondência ou compreensão ou afeto ou o que quer que eu pudesse dar à época, sem que eu percebesse - só me foi revelado, por você, anos mais tarde, que aqueles olhos estavam embebidos de intenções.
Eu não pensava em nada muito além, naquele tempo estava tão sozinho, e insatisfeito com a minha condição, que só um amigo já me fazia profundamente feliz. Aliás, um amigo sempre me fez profundamente feliz, ainda faz, ainda fazem, todos eles.
Romance era algo muito complicado para mim que sempre fui romântico teórico e amante mecânico. Hoje em dia aprendi a transitar por algumas zonas cinza - aceitei um pouco mais o desapego que me é inato, mas que luto contra, dada a minha ideia fixa de que sou romântico incorrigível - mas à época, para mim, era tudo preto ou branco, isto ou aquilo. Ficar era um conceito estranho à medida em que eu não podia aceitar que você, além de meu, também era de fulano e de ciclano e ao mesmo tempo de ninguém pois você não se colocava na dolorosa posição de pertencer a alguém, diferentemente de mim.
Para mim, que sempre gostei muito de fazer parzinho, nós estávamos juntos e eu era seu e você era meu e seríamos muito felizes e eu não passaria mais nenhum Dia dos Namorados sozinho e o Ano Novo, meu deus o Ano Novo! - sem mais estranhezas decorrentes da solidão; mas a estranheza me é, assim como o desapego, a ideia do romantismo e a solidão, inata.
Mas a questão aqui é que no dia que nós encontramos pessoalmente, face a face, ou face a meia-face, não sei, a Lua estava em Escorpião e eu lembro de absolutamente tudo - ou gosto de acreditar que lembro. Hoje ela está em Câncer e eu não paro de pensar em te falar o que eu não paro de pensar. Amanhã ela estará em Leão, e talvez, se eu tiver coragem de finalmente me encarar face a face, eu pare de pensar em te falar o que eu penso para me focar em me falar o que eu penso. 
Câncer é complicado, né? Prefiro mil vezes Capricórnio. Mas a Lua em Câncer muito boa, levanta maré, estica menino. Gosto. É boa pra crescer ou pensar em crescer ou estar com alguém que nos faz crescer. Capricórnio, por outro lado, cresce no susto, aquela coisa de aprendizado de máquina, tentativa e erro; falo isso porque sou capricorniano de sol e lua e eu bem sei dessas coisas - ou novamente frisando: gosto de pensar que sei.
Eu não sei trafegar entre as palavras, nem entre as que eu profiro nem entre as que eu escrevo. O que está dito está dito, o que está escrito está escrito. Se não foi, não era para ser, mas eu me ressinto, eu remoo tudo como quem se põe a limpar gavetas e no meio do processo se deita sobre a bagunça.
Mas chega de enrolação, a real questão aqui é: a Lua estava em Escorpião, e nessa Lua a gente lembra principalmente do que não era palavra e, por alguma razão, morreu entreolhares. 


arte::: este gif de bjork, que achei no google, dizendo absolutamente tudo.


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