Das De(re)sistências
do que em mim ainda é inteiro -
porque
sou, quebrando pelos cantos,
carcomendo
aos poucos,
um alguém esmigalhado;
caminhando em direção ao profundo
incompleto, sou grato -
eu
abro mão.
em qualquer lugar do mundo -
porque eu
nasci para ser apátrida; quando eu tinha
dezoito anos e fui me alistar no exército,
o coronel viu meu desapego, das coisas
que há para se apegar, nos olhos, e me
dispensou -
me sento, suspiro fundo e,
com o que eu imagino ser um choro
engasgado prestes a ser engolido,
eu me rendo,
apático - ou às vezes, porque
eu tenho gosto pelo drama, me rendo
e desabo.
dias longos. a gente senta e fantasia:
"qual o próximo plano? para onde vamos
agora?" - eu realmente não sei. às vezes eu passo um tempo sem saber.
deito, com os olhos meio mortos - porque eu desisto e morro um pouco - sem saber.
às vezes até choro,
querendo respostas, querendo tudo e, quando me é concedido um desejo (qualquer um mesmo), quero mais um tempo para poder pensar,
para me dar o poder da escolha e, no final, acabar com as mãos cheias de poeira
- porque o tempo é voraz e o meu querer é, inversamente, uma fera mansa quando arreganha a boca para se satisfazer.
das poucas coisas que me restam,
uma delas é a escolha
sobre as poucas coisas que me restam
e sobre as muitas coisas que eu, precariamente,
me proponho ser.
das poucas coisas que me restam
uma delas é
a escolha sobre o que faço
depois que certezas e planos
são reduzidos a estilhaço.
Ilustração por: Art by Shahar
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