Novamente, endereçado
eu te vejo no escuro, de mãos atadas.
crítico mordaz que sou
ainda me lembro de quem pretendia ganhar o mundo
e dar a volta naqueles que te deram a volta.
aos dezenove anos: amor de sua vida
hospitalizado e desencantado,
primeira desilusão a morrer no silêncio.
eu sei que ainda dói,
quem você sonhou ser,
por detrás dos olhos marejados.
eu sonho esquecer,
do que sei,
e de quem bem sei
querer mais
do que a vista alcança.
sei que você tem fome de mundo,
por detrás do descompasso
do seu dueto-acidente.
acho que falo assim pois nunca me imaginei a dois
e não sei ser "nós",
só sei ser eu,
só sei ser um,
sob a rigidez
da minha crítica
e da métrica
que é a minha respiração
e a minha percepção dos fatos;
eu percebo que não confio,
sonho desconfiar,
mas me esqueço, me engano,
e aí me reencontro
num dueto similar
ao descompasso que tanto critico.
eu só sei ser só,
mas não estou só há algum tempo;
estranho pensar nisso agora que
somos outras pessoas e sempre que te encontro o silêncio
enche no meu peito até morrer numa nuvem de fumaça tóxica.
foto por: Fan Ho - "Approaching shadow", 1954.
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