Plutão Nunca Foi Planeta
Salvador, 13 de Janeiro de 2017.
Oi.
Te devo esta carta há um tempo. Dois anos agora e não somos mais os mesmos - ao contrário: me sinto estranho àqueles dois que se conheceram outro dia e passavam horas a fio conversando. Hoje tudo é muito diferente, a gente mastiga esse afeto puído, maltratado, que nutrimos entre os nossos desdobramentos ao longo dos dias. Afeto é afeto é afeto é afeto é afeto, ainda assim.
Procuro do topo de mim, suspenso no horizonte de possibilidades por alguma resposta que soe razoável; para onde vamos? Sinto agora, talvez por medo, sabedoria ou até mesmo lampejos de maturidade - cabe a algum crítico que não eu decidir -, a vontade de não ter mais vontades, o anseio pelo exato oposto do que me faz abandonar, repetidamente, tudo o que conquisto em troca de mãos cheias de poeira, aspirada tempo adentro. Ter mais tempo: queria.
Sempre gostei, assim como você, do estrago; o impacto em mãos livres de culpa. Afadigar os olhos inocentes de meus algozes com lágrimas, roendo o osso da culpa através de minhas próprias feridas; não me importo se é minha carne ou não, não deixa de ser estrago, e merece ser tratado como tal.
Às vezes eu me pergunto, perdido em mim e em meus arredores, onde você está, ou esteve, quando resolve, subitamente, mudar e me receber em sua introspecção - sós, nos dois; silêncio a pino. Dias sem te ver, talvez estejamos lidando com meses, eu não tenho certeza - tá aí algo que sempre te devi: certeza. Só são certos, por destino ou pura negligência - ou, quem sabe, por ambos -, os nossos desencontros.
Te escrevo com certa urgência também, antes que eu mude e desapareça. Já foi melhor, mudou, preferia antes, mas não tem muito o que fazer sobre isso. Eu tenho buscado um amigo em você, não sei se fiz certo, não sei se é realmente possível, mas tenho. Acho que o mal é que eu me apego, que eu amo, me esqueço dos meus arredores e mesmo quando eu deixo de amar continuo apegado - penso que a real questão aqui é que não é você a quem eu recorro para falar do meu dia.
Cansei de escrever. Tudo o que você precisa saber e parece não ter sido escrito é subtexto. Fica bem.
Com carinho,
Pedro.
Te escrevo com certa urgência também, antes que eu mude e desapareça. Já foi melhor, mudou, preferia antes, mas não tem muito o que fazer sobre isso. Eu tenho buscado um amigo em você, não sei se fiz certo, não sei se é realmente possível, mas tenho. Acho que o mal é que eu me apego, que eu amo, me esqueço dos meus arredores e mesmo quando eu deixo de amar continuo apegado - penso que a real questão aqui é que não é você a quem eu recorro para falar do meu dia.
Cansei de escrever. Tudo o que você precisa saber e parece não ter sido escrito é subtexto. Fica bem.
Com carinho,
Pedro.
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