Sobre o Crescer
é você quem nocauteia sonhos e esmigalha
o tempo com as mãos trêmulas.
num soerguer de sobrancelha e suspiro
longo, a tua desaprovação começa a crepitar
e a ouço do outro lado da sala - de longe
te observo pôr este cômodo inteiro abaixo
com os olhos de lince brilhando em fúria gélida.
incômodo a pino: percorro o caminho das tuas marcas de
expressão ressaltadas pela feição contrariada, dou de cara
com o teu estar aqui a contragosto.
desde pequeno aprendi a disfarçar não disfarçando -
"atrás do arranha-céu tem o céu, e depois tem outro céu
sem estrelas". Eu nunca fui, e estou certo de que você
também não, as superfícies.
O que você fazia quando eu lhe assombrava, às quatro da
manhã, com a minha ausência? Pergunto pois a tua também
me assombra, espectro.
O meu coração é as minhas marés e, por conseguinte,se faz
a minha dificuldade de ser. A inconstância é a certeza que
está por detrás da sobrenatural candura do meu silêncio.
Não espere um respostas do pêndulo, confronte o espelho
e terá metade de uma certeza - a outra parte achará em
mim, neste mesmo silêncio que te incomoda.
O óbvio só existe para nortear a verdade, mas quase
nunca a abarca em sua inteireza.
A indecisão, no meu caso, não é de forma alguma falta
de sensibilidade. Sou muito sensível com o outro e,
principalmente, comigo mesmo - por isso postergo as
verdades que me rasgam em dois ao serem ditas.
A verdade, aqui, acaba em nós dois, separados.
Hoje em dia eu sou muito os meus remendos, mas
acho que todos somos de alguma forma.
Te reencontro no caos, neste limbo cármico que, por
alguma razão desconhecida, continuamos a retornar.
No fim do dia lhe dou as mãos, contamos até dez e
encontramos um no outro um bálsamo para as dores
e embaraços do crescimento.
No fim do dia retorno para a intermitência do amor da
minha vida, sorrindo pelos cantos e aliviado por conseguir -
pelo menos desta vez - retornar.
Pedro, você escreve muito bem. Sou amiga de seu pai, e fico muito feliz em saber que você gosta de literatura e que escreve tão bem. Além de ter uma sensibilidade grandiosa. Meu nome é Ângela Vilma. Um abraço. Parabéns pelo blogue.
ResponderExcluir