13 de setembro de 2016

Sobre Cordas e Elos Fracos


Há neste mundo algumas derrotas inevitáveis, contudo também há quem perca em demasia - é dessas pessoas que precisamos falar.
William Carlos Williams foi categórico em afirmar no prefácio de "Howl" que "Todos nesta vida estão derrotados menos um homem, se este for homem, não está derrotado.", e essa frase sempre me fez pensar bastante. No fim depende muito de qual significado queremos dar às palavras do autor, tudo que cerceia Ginsberg tende a ser bastante ambíguo, e o seu grande mestre, W.C.W, não seria diferente; contudo, gosto de encaminhar a frase pelo viés da crítica à sociedade patriarcal. Nós, minoritários, apesar de todos os avanços ainda somos o elo mais fraco nesta sociedade, e as múltiplas violências que sofremos diariamente são prova disso.
Eu não tenho voz. Engraçado alguém que pretende ser comunicólogo falar isso, mas não tenho; às vezes, numa sala, me pego tentando justificar uma fala desesperadamente ao mesmo tempo que sou rechaçado com olhares, e não, isso não tem nada a ver o meu jeito de ser, tem a ver com a pessoa que eu sou - "interessante mesmo é ver homem branco desconstruído falando, minoria já deu, né?." 
Eu não tendo a falar sério, penso profundamente sobre muitas coisas mas hesito em me aprofundar, não sei se por medo ou por estafa, mas comecei a atribuir a mim e a meus textos códigos e figuras de linguagem que só eu entendia plenamente, e dominar alguma informação por completo, num mundo onde todos sabem absolutamente tudo sobre qualquer coisa a qualquer instante, é um consolo. A poesia foi e sempre será o meu prêmio de consolação.
O ser minoritário é de um caráter errático tremendo, é claro que nós temos os nossos grupos de referência, nossas inspirações, amigos, pessoas que nos acolhem quando precisamos, mas lá no fundo pulsa uma solidão identitária, a certeza de que neste mundo estamos sós e assim continuaremos até o final. A real solidão existe na descoberta de quem se é. Ser, em sua plenitude, é o maior desafio da existência humana.
No fundo estamos todos sós por sempre estar cedo demais para dar qualquer sinal de certeza identitária - enquanto o tempo não impressionar sempre parecerá cedo demais - e nos culpamos por isso, a culpa também é uma sombra de quem está à margem. A sombra que é a culpa só se concentra nas margens porque no centro só há luz - sob um grande holofote prateado um homem branco e velho balbucia glórias e traga um charuto.
Eu sou muito só. Eu sou muito os meus trejeitos, sou muito as coisas que eu tenho dificuldade em admitir, os embaraços de palavras, o medo de amar, as incertezas, sou muito os constrangimentos que passo, o suar frio, a respiração descompassada, sou muito a minha pele sob o sol do meio-dia. Sou muito só, admito. Sozinho e convicto de que um dia serei muito mais eu.
Enfiar na goela do mundo abaixo quem eu sou (até o momento) e o que faço é o que me tira das sombras e me opõe aos holofotes. A cultura surge a partir das oposições, e é na resistência enquanto minorias que encontramos a oportunidade de tentar moldá-la e fazer do mundo menos insalubre. Esses conflitos pelos quais passamos, esses escândalos e entidades que disseminam o ódio contra nós são um entrelaçado das dores do crescimento. 
Aos poucos o nosso planeta cresce, demograficamente e culturalmente, começamos a abandonar velhos paradigmas e a aceitar as pessoas como elas realmente são, como elas se sentem bem - isso é combater a solidão identitária: aceitar o outro em sua mais simples essência -, claro que aceitação e empatia ainda não são consenso, mas é para onde gosto de pensar que caminhamos.
A corda costuma arrebentar para o lado mais fraco, ai de nós que ficamos pendurados por um triz! Somos o elo mais fraco, apesar de nossos esforços hercúleos para resistir e ser vistos num mundo desses, ainda somos o elo mais fraco. A corda arrebenta para quem se recusa a chamar o homem sob o holofote de sinhô. Mas a gente bem que segura as pontas quando pode, e temos podido, e poderemos, cada vez mais.

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