Sobre o Cortar
A alma desembainhada
diante de lábios tão cálidos
e olhos tão rasos
hesita.
de repente o espadachim
se vê desnorteado.
É fraco porque é homem
e só é homem porque é fraco.
fazer o que é preciso
só cabe a quem tem siso;
só tange a quem conhece razão
Samurai com medo de sangue.
Cortando o próprio ventre
com espada sem fio.
Sentindo o peito vazio
e ainda assim farto.
eu quero morrer num abraço longo
que é pra não ter que sufocar sem você.
vivemos em guerra;
porque a guerra é filha pródiga da humanidade
a guerra sou eu e você e todos a quem amo.
o Iraque é aqui.
Hiroshima ainda queima ímpia
por seus filhos obliterados
num desabrochar subatômico.
No pântano da memória as águas do rancor -
como perdoar o vilão abstrato?
aqui mesmo onde deveria lutar
e proteger estes estados não paro de pensar em você.
um guerreiro, samurai, soldado, sei-lá-o-que completamente inútil,
hesitoso e sentimental até o último fio de cabelo.
quem ama não faz o que é preciso
porque não é objetivo
porque perde o juízo
porque desaprende a se bastar.
amores de guerrilha;
pega-se em armas
mas ninguém atira
ninguém dispara
ninguém se arrisca.
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