Sobre o Acolher
A força das tuas memórias também
vem da vontade de não falar.
Eu não te conheço.
Talvez num sonho olhares foram trocados
e intenções foram destiladas;
mas conhecer de conhecer eu não conheço.
Ainda assim me sensibilizo.
Das coisas que eu sinto não sei bem;
mas eu quero saber de você.
Como é que cê tá?
Tem dormido bem?
Tem se alimentado direito?
Eu quero saber de você.
Sei que posso lhe parecer uma sombra -
um holograma caricato do passado que bate à tua porta -
e sei que hesitamos em responder
ao chamado da memória;
mas você precisa largar deste orgulho bobo
e me ver de perto.
Não quero lhe tirar as impressões que tem sobre o mundo
e nem as que tem sobre mim;
eu só quero que perceba que enquanto
você vegetava no manguezal da memória
o tempo se estilhaçou em mudanças sobre a nossa cidade;
sobre mim, sobre você.
Eu preciso estar aqui com você.
Eu preciso estar com você;
porque cuidar tanto de ti
é, em parte, cuidar de mim mesma.
O amor, em sua insensatez, precisa de ar puro
a cidade é concreta e tão certa de si que sufoca -
nas soluções alternativas, no inconvencional, no inesperado
nós sobrevivemos e florescemos;
ainda que incertas do que o futuro nos reserva, persistimos.
caminhando juntas
sempre unidas, sempre irmãs
a solidão não ronda heroínas.
minha filha vai ter nome de deusa,
Mnemosine, Oxum, Vesta, Freia, Lakshmi,
Ísis, Hecáte, Deméter, Iansã, Obá.
nome que queima na sua boca,
nome de força,
e com endereço
do mundo todo,
ondo todo o mundo
é o meu povo.
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