Dos Não-Poemas Escritos
Perdeu a determinação
foi engolido pela autocrítica
só restou verborragia
e receio.
nada é bom demais
nada é verdadeiramente ruim
nenhum risco é tomado
nenhum risco é traçado
a folha permanece em branco.
A folha catatônica diante da mente
tão muda quanto a noite que lhe abriga.
E ele vem tentando usar palavras tão grandes
que lhe transpassam as ideias
a forma ridiculariza o conteúdo
o vaso aprisiona a flor.
Eu quero falar das minhas questões
mas em algum momento eu deixei de
me focar nelas e só tive olhos pros
detalhes.
palavras doces não põem poesia no prato.
Eu tenho fome de mim.
Preciso destes poemas
para chegar à conclusão
de que não há conclusão.
perdoa a minha mudez
e não desisti de si.
Não desiste dos teus milhares de rascunhos
que são só título
que são só linha
que quase são lenha
prum poema que insiste em não nascer.
Não desiste de si
porque uma hora
mesmo que seja num ataque
ou epifania
o poema nasce
e você volta a poder
respirar.
0 comentários: