22 de outubro de 2015

Exílio

Velhos hábitos, vícios, conurbações de solitários, engarrafamentos com destino desconhecido - filas formadas por convenção - já faz tanto tempo que eu espero...Nem sei mais o que vim fazer aqui.
O capitalismo é uma benção! Todos os dias passo pelas ruas com vitrines vistosas e preços cada vez mais acessíveis - ontem mesmo  a loja de roupas da esquina anunciou um desconto imperdível: todas as calças estavam vinte por cento mais caras do que há três meses, mas de alguma forma eles chamaram isso de quarenta por cento de desconto - comemorem! O capitalismo lhes saúda.
Eu toco o meu recibo e lembro de minha aventura solitária pelo shopping - parece absurdo.
Enquanto houver dinheiro a ser ganho eu ficarei bem... Pelo menos é isso que me dizem pela televisão.
Respiro a brisa plúmbica da metrópole às quatro da tarde - tem cheiro de infância. 
O posto de gasolina e o ursinho de pelúcia gritam em uníssono evocando a minha memória. A Cidade é a médium, o Tempo é a entidade.
Seres impassíveis aos olhos da metrópole - de um dia para o outro tudo virou uma questão de números, queremos contabilizar tudo! Quantas pessoas você pegou na última festa em que foi, quantas calorias são ingeridas, quantas horas reservar para cada atividade - tudo é absurdamente previsível. Ninguém é mais espontâneo hoje em dia - de tão rara que é, a espontaneidade passou a ser tratada como loucura ou farsa.
Todo dia é eternidade, longe de mim mesmo os dias parecem infinitos. Certa vez eu me separei de mim e agora não faço a mínima ideia do que fazer. Estou xerocopiando sonhos e tentando juntá-los ao que restou de meu ser. Sabem quando as estrelas morrem mas de tão distantes seu brilho ainda pode ser visto da Terra? É algo similar.
Penso em demasia a respeito tudo e de todos que me cercam; às vezes acabo esquecendo de mim - eu fui destinado à sensibilidade, à dedicação ao coletivo - apesar de caber em mim a roupa do egocentrismo não me cai bem.
Não sou melancólico, apenas real, explicitamente real: às vezes é preciso mudar radicalmente, e não há nada de errado com isso - viver é sentir-se confortável em seu próprio ser.

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