17 de outubro de 2015

Desengasgo

Olha, eu cansei. Eu não aguento mais ter que me esforçar para aliviar o impacto das suas incertezas para cima de mim; por que só eu tenho que mudar?
Minhas amigas vêm me dizendo: "desista", mas eu persisto no erro, eu persisto em você.
Não sei por que as coisas têm que ser tão difíceis, eu preciso de solidez - me condenei à realidade, caso contrário meu coração partiria.
"Esqueça-o", eu sussurro para mim mesmo enquanto leio a carta que escrevi para você mas que nunca enviei, e nunca enviarei.
Eu não te amo, é cedo demais para amor - o Amor é uma ave de hábitos noturnos - mas gosto bastante de vocês, e gosto num nível alarmante; como eu me permiti chegar até aqui? Por que eu não me retraí como é de costume?
Penso em me afastar - todo dia é eternidade. Às vezes parece que o sol não vai se pôr nunca. Já faz vinte anos desde que nos vimos pela última vez e ainda assim você diz que me considera muito, entretanto, conhece dezenas de outros caras e sai com eles em sua primeira hora livre - enquanto escrevo este texto a dúvida ascende no horizonte: "por que eu ainda estou aqui?" - correr para um futuro melhor, é o que tenho pedido a mim mesmo para fazer.
Talvez você não perceba o descaso comigo, talvez eu esteja exagerando, mas eu me sinto muito mal com tudo isso e você está ocupado demais para perceber algo além das suas próprias questões.
Sinto saudade do meu coração inerte, pelo menos naquela época nada doía e os dias descongelavam sob os meus olhos para que eu pudesse me banhar quando a noite chegasse.  Hoje os dias e noites fundem-se num só terrível ciclo onde sou alvejado por estalactites de gelo que se desprendem da gruta da ilusão.
Sim, eu duvido dos seus sentimentos por mim, da hora em que me levanto até a hora de dormir; eu tenho as minhas dúvidas, não posso evitar. Eu penso em você boa parte do meu dia - eu não consigo acreditar que você pense em mim da mesma forma que eu penso em você, é triste, mas não acredito.
Eu realmente acredito em tudo que escrevo, e realmente gosto de você - talvez por isso me doa tanto dar corpo a este texto.
Eu não te enaltecerei por minhas palavras, me desculpe, não posso massagear o seu ego. Às vezes eu sinto que é somente isso que eu sou, alguém que lhe ouve e te anima quando você está mal.
Tenho muito medo que no fundo você seja como todos os outros, essa é a pior das decepções para quem acha ter encontrado uma pessoa especial, descobrir que ela é comum. Tenho as minhas razões para ter dúvidas, você deve saber disso. Ultimamente você tem me provocado muitas dúvidas; apesar dos meus esforços para suprimir as minhas paranoias eu sempre venço a mim mesmo.
Não falarei mais das coisas que acho que estão acontecendo - seria muita crueldade comigo mesmo, estou tentando praticar a auto-gentileza, o primeiro passou foi esse, avaliar o que me faz sofrer e afastar o que eu sinalizar. Apesar de tudo não é só sofrimento que você me provoca, te acho insuportavelmente agridoce - me leva aos extremos da melancolia e da alegria.
Precisava escrever para dar forma ao meu pensamento; aos que foram pacientes o suficiente para ler este texto: obrigado por se interessarem por meus sentimentos. Ao destinatário desta carta: não há mais nada a dizer, você provavelmente jamais lerá este texto, não sei o que aconteceria se lesse, não pensei na possibilidade.  

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