2 de outubro de 2015

Carta Para Mim Mesmo em Tempos de Crise



Pedro,
Hoje eu resolvi lhe brindar com esta carta que há muito tempo tem sido escrita e revisada, mas nunca tomou corpo (apesar de ser quase tão velha quanto nós mesmos). Não se iluda, esta é só a primeira parte, com o tempo as outras aparecerão – spoiler alert: não há conclusão. 

Mais uma vez você foi longe demais. 

Conheceu alguém, achou que ele te entendesse – deu passos largos no que nem veio a ser uma relação.
Por que cabe a você ser o visionário de futuros que não existem? E o mais importante: Por que você não pode eliminar as informações? Qual o seu problema com descartes? De onde vem essa necessidade absurda de analisar e refletir sobre tudo o que você ouve? As suas racionalizações e antecipações nem sempre te levam aos melhores caminhos.
Você deveria falar menos. Será que já percebeu como as pessoas se chocam quando você alterna do silêncio profundo às palavras intermináveis? E outra: será que você já percebeu como a opinião das pessoas lhe afeta? Quando você fez algo sem premeditar? Tente se soltar mais. Aquilo que você chama de emoção, até isso passa pelo grandioso e terrível juiz que vive dentro de você.
Seja menos obsessivo, com tudo. Não ouça todos os discos de um cantor novo só porque você ficou encantando por ele numa festa. Não escreva milhares de cartas de amor para alguém novo só porque você ficou encantado por ele numa festa. Não repita as mesmas piadas só porque elas lhe serviram muito bem numa festa. Você nem vai a tantas festas, deveria tentar mais.
E falando em obsessões: por que essa obsessão com relacionamentos sérios? De onde é que você tirou que acharia o amor da sua vida sendo que nem decidiu direito o que quer fazer dela? Saber dar prioridades às coisas VERDADEIRAMENTE importantes, outra coisa que você deveria fazer. Hoje, aos dezessete anos, lhe digo o que percebo: você perde muito tempo com pessoas e coisas inúteis – sim, você conhece pessoas que não lhe fizeram nada de bom, só não quer admitir isso. Aprenda a dizer adeus – seja resoluto, não mande uma mensagem depois de três dias de silêncio.
Estamos em 2015, você fez uma lista de metas, no começo não era muito séria, mas agora o ano beira o fim, e você vê a real possibilidade daquelas coisas acontecerem; vou adicionar itens à lista e guardá-la no mesmo pacote dos poemas de 2013 – acabaram os pacotes, se eu arranjar outro coloco a lista lá e te deixo uma nota de aviso.
Quando comecei a escrever este texto estava muito mal – estruturar o fluxo o pensamento e conversar consigo mesmo através da escrita foi muito importante para mim, principalmente neste ano – espero que você ainda esteja escrevendo regularmente.
Uma breve nota sobre a lista de metas para 2016: ela tá muito boa, não é daquelas clichê que envolvem dietas no primeiro dia de janeiro ou se envolver num relacionamento sério (lembra como esta foi uma das suas metas para 2015? *risos*), tente cumprir o máximo possível. Nunca pare de fazer metas ou listas, é uma de suas paixões secretas, não esqueça.
Faça considerações do dia, não deixe que acontecimentos ruins lhe ocupem por completo. Hoje, por exemplo, você se decepcionou, está triste? Sim. Quão triste? Se você ainda não aprendeu nada então na certa diria que está DESOLADO (não seja tão dramático, isso tem lhe feito mal!), mas na verdade você só está se sentindo um pouquinho melancólico por perder uma corrida. Ainda há muitas corridas para serem perdidas e ganhas nessa vida, e não é por causa de quem não te entende que você vai ficar assim.
Conselho: Pare de se desesperar tão facilmente. Quando o desespero bater venha aqui e leia esta carta, ou talvez escreva outra - fica a seu critério.
Eu, estático no tempo em que lhe escrevo, te afirmo com todas as palavras: te entendo, mais do que você mesmo (?!). Se quiser conversar comigo escreva uma carta e guarde-a – dialogaremos ao longo do tempo, quero muito te ver crescer.
Eu estou sendo muito sincero quando lhe digo: você não merece toda a tristeza que sente; um dia você inventou que queria ser poeta e que para escrever era preciso sentir a mais violenta das tristezas, então você passou a colher maus sentimentos dos outros, assim como uma criança catando conchinhas na praia – espero que tenha parado com isso.
Não tenho mais o que escrever, por hoje é só. Os próximos problemas ficam para uma nova conversa e para um novo você. Eu dou como encerrada a existência de quem eu costumava ser até mais cedo. O ponto final desta carta será a minha lápide e o seu berço, deixo como herança uma dose rala de autoconhecimento. Mude por mim, e por favor, não hesite em se transformar quando as coisas começarem a dar errado.
Mudar dói, é difícil, e eu sei que você é muito apegado a tudo, principalmente a si mesmo, mas eu precisei dar um basta a certos ciclos, e se as coisas estiverem difíceis por aí recomendo que faça o mesmo e me escreva uma carta, não importa onde eu esteja, quero saber como você está (de verdade).

 
Adendo: Reli esta carta mais duas vezes em menos de dez minutos. Me agradeci pela sinceridade, foi muito difícil. Obrigado, Pedro; gosto muito de ouvir o que você realmente te a dizer.

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