5 de outubro de 2015

A Magistralidade do Tempo Sob As Águas

Passei o dia tentando negar o amor e o tempo através de cinismo prosaico. A Lua está em câncer – eu realmente não quero acreditar no amor, mas acredito. Ainda que me decepcione ciclicamente, ainda que meu coração sufoque em ansiedade e medo, ainda assim acredito no amor. E sou sincero quando digo: não estou triste por me decepcionar, muito menos melancólico – me sinto aliviado por ter respostas, por novamente poder pisar na firmeza da realidade – para onde sempre volto no final do dia e obtenho conforto.
Eu não aprecio os sentimentos, eu os devoro. Hoje alguém me disse: “eu preciso de um tempo para apreciar essa nova circunstância, essa nova descoberta sentimental”, eu entendo esta pessoa, mas trato as coisas de uma maneira completamente diferente. Eu respeito o tempo, mas não sou submisso a ele; chega uma hora em que avanços se fazem necessários – os meus sentimentos que não progridem são incinerados. O coração é fogo e a memória o carvão.
Prevejo despedidas. Lembro-me que deixei registrado para mim um conselho simples e brilhante: “livre-se das coisas e das pessoas que não lhe fazem bem”, esta é a frase que rege a parte um da minha coleção de vivências escritas no formato de cartas. Para os entendidos de astrologia: tenho pensado em escrevê-las conforme as revoluções lunares. Neste ciclo em que lhes escrevo a minha lua em Capricórnio está na casa quatro – a lua em câncer definitivamente não passou despercebida.
Escrevo este texto num fim de tarde, o sol adormece atrás das nuvens num tom avermelhado belíssimo, e caí tão rápido no horizonte, quase como quem ficou envergonhado – talvez tenha encontrado sua amada, a Lua, e não tenha tido coragem para se declarar – preferiu voltar para a cama, quem sabe amanhã ele consiga.
O ano passou tão depressa. Semana passada acordei, ainda era cinco de março e eu não fazia a mínima ideia do que estava por vir. Se pudesse eu faria tudo outra vez. Talvez pularia algumas etapas, não vou negar, mas que bom que eu não pulei estas etapas – as decepções nos ensinam tanto, o especialista nada mais é do que tentativa e erro. Tão bom errar e continuar tentando.
Eu vejo horizontes luminosos em fins de ano com abraços sinceros e amor verdadeiro; eu vejo a vida monocromática, e ante a vida eu vejo holofotes que me cegam e me encaminham para a sala do juiz que vive em mim – ele gosta das coisas claras, diretas, concretas; é um rebelde que finge perpassar o tempo, mas que vive aterrorizado por ele. Eu vejo a inevitabilidade de um futuro melhor, apesar de tudo.
Hoje mergulhamos na memória – perdemos o fôlego, mas resgatamos as coisas que precisavam vir à tona. Parabéns, você fez o que precisava fazer, não há vergonha nisso. Me atolei nas coisas do passado, peguei a minha colcha de decepções e remendei mais alguns trapinhos nela – com o tempo se aprende a remendar – pretendo passar a noite assim, agarrado ao passado, contemplando e aproveitando a vida pelo seu mais simples espectro, o do tempo.
E não pensem que há melancolia no mangue do tempo. Há um certo conforto, uma sensação de voltar para casa, sabem? Tentamos nos adaptar para viver melhor, mas esquecemos das migalhas de nós mesmos que deixamos pelo caminho; a noite serve para catar migalhas, hoje colhemos e amanhã voltamos a caminhar. Citando Dorothy, “Não há lugar como o nosso lar”.

0 comentários:

Tecnologia do Blogger.

Seguimores