19 de janeiro de 2018

Soturno


te estendo a mão trêmula e ranjo os dentes.

lágrimas aos olhos,
choro ribombando na garganta 
                                   estranhamente emudecido;

saudade que esburaca tecedura da memória.

gal costa enunciado enfeitiçada e carnavalesca 
os versos de "não se esqueça de mim" no rádio.

te dou a outra mão que é para que você se apoie ainda mais.

segure.

estar seguro é estar em casa e rodeado de quem nos ama.

você está seguro agora.

penso que uma espiritualidade maior seria melhor conforto.

anos atrás eu me considerava espiritualista,

hoje ainda o faço, porém um pouco mais descrente de mim,

 não do resto, 

não dos outros.

veja: é que eu nasci encostado num edifício imenso chamado saturno e disse
a mim mesmo me dando caneta e lenços de papel, "escale".

à margem de mim, perto de onde choro, reapareci ante meu esboço juvenil
e enunciei ainda mais severo: "engula." 

te ergo deste mundo sem fundo, carregado-o nas costas,

  porque só eu conheço o que te assusta,
  porque só eu conheço o que me assusta
                          
                                             e me aterroriza a ideia de um dia não ter mais medo.

com as mãos vazias, porque eu comigo mesmo encaro este vazio profundo,
                                                                                                                                  avanço.


"e contudo não estou tão velho nem tão magnânimo que consiga aniquilar o eu" - escreveria waly sailormoon.


arte::: “two women sitting at a bar”, pablo picasso.


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