do amanhã
o luzir trêmulo e desencarnado da madrugada profunda,
dos olhos fundos da manhã, encarava fundo o meio-dia e
os seus demônios.
já faz muitos anos desde que eu me permiti
amar alguém.
eu sou muito só - sem um grande amor para dar
em troca porque este Amor já foi tomado de mim;
atenho-me, ou ative-me, aos meus excessos de paixão,
harpias laceradoras de peitos -,
eu sou vazio - ou pelo menos, à medida em que escrevo,
estou vazio e aos poucos me encho do alguém
que imagino ser.
faz muito tempo desde de que eu me propus à entrega.
Desde que, segundo a tradição woolfiana, olhei para o céu e pedi à
Estrela que me consumisse por completo.
eu ainda não sei amar direito.
eu costumava ser melhor nisso.
eu costumava me dar ao outro por completo, com os olhos cheios de lágrimas - por dentro -, e beijar-lhe a testa com o coração completamente apertado.
hoje choro à vista de quem quiser ver - porque amo quem
quiser ser amado.
hoje eu mereço o amor, acredito nisso.
acho que sempre acreditei mas só agora tive coragem de admitir.
porque eu fui criado para acreditar no amor, mas eu sou um rebelde quase sempre sem causa.
ainda assim sei que aquilo que tenho para dar é inegavelmente imaturo.
eu sou inseguro, eu me ensinei a desaparecer no meio do meu
grande espetáculo, no entremeio dos meus atos finais.
eu me ensinei a ser os espaços jamais ocupados e a ideia do que as coisas
poderiam ser - nesse sentido o meu amor é maduro, porque é
ideal e implacável.
lembro-me do futuro. debruçado sobre a janela diante de mim,
absolutamente exausto, dou
afeto - que transforma e cura - a alguém.
amo profundamente este alguém, não porque posso -
eu já não me acho mais no lugar de poder mais nada -, mas porque
quero, e amo.
arte::: não achei o nome d@ artista
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